Registro Internacional de Marca: Tudo o Que Você Precisa Saber

registro internacional de marca homem jovem focado

Em um mundo cada vez mais conectado, a proteção da identidade de sua empresa vai muito além das fronteiras nacionais.

No cenário global de negócios, uma marca forte e devidamente protegida em diversos países é um ativo intangível de enorme valor, capaz de gerar confiança nos consumidores, facilitar parcerias internacionais e garantir exclusividade contra imitações.

O registro internacional de marca é a ferramenta que permite estender essa proteção a múltiplas jurisdições de forma simplificada e estratégica.

Neste guia completo, vamos explorar o que caracteriza uma marca internacional, por que é fundamental registrá-la, como funciona o procedimento via Sistema de Madri e outros caminhos, e quais são os custos, limitações e melhores práticas para alcançar a cobertura global que sua marca merece.

O que é uma marca internacional

registro internacional de marca colaboradores segurando notebook

Uma marca internacional é o mesmo sinal distintivo — nome, logotipo, slogan ou combinação de elementos — que você registra no Brasil, mas cuja proteção você estende a outros países.

Em vez de executar um processo de registro separado em cada jurisdição, a marca internacional utiliza mecanismos que centralizam pedidos e renovações, facilitando a gestão e reduzindo custos. Contudo, “internacional” não significa automaticamente “mundial”: a proteção vale apenas nos países onde o titular optou por designar cobertura.

Diferença entre marca nacional e internacional

Enquanto uma marca nacional confere ao titular um direito exclusivo de uso apenas dentro do território brasileiro, a marca internacional funciona como extensão desse direito a outros países.

No Brasil, o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) analisa e aprova o registro, concedendo exclusividade em território nacional. Já para a proteção além das fronteiras, há dois caminhos principais:

  1. Sistema de Madri (OMPI)
    Um único pedido inicial — chamado de pedido básico — protocolado no INPI serve de base para o envio de um único formulário internacional à OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual). A partir daí, o titular escolhe os países onde deseja extensão, pagando taxas proporcionais.
  2. Filing direto
    Em países que não fazem parte do Protocolo de Madri, como alguns emergentes, ou quando o titular opta por não usar o sistema multilateral, é necessário apresentar pedidos específicos diretamente a cada escritório nacional de marcas.

A principal vantagem do registro internacional é a simplificação no gerenciamento: as renovações, alterações de titularidade e até transmissões de direitos podem ser feitas de maneira centralizada, além de possibilitar um planejamento estratégico da expansão comercial.

Por que fazer Registro Internacional de Marca?

registro internacional de marca executivos em reunião

Estender o registro de sua marca além das fronteiras brasileiras oferece benefícios estratégicos que vão muito além da simples formalidade administrativa.

Em primeiro lugar, a proteção internacional confere ao titular o direito exclusivo de explorar a marca nos mercados designados, criando uma barreira jurídica contra concorrentes que poderiam, de outra forma, registrar sinais idênticos ou semelhantes em outra jurisdição.

Isso significa que, ao entrar em um novo país, você evita surpresas desagradáveis—como a necessidade de renomear seus produtos, enfrentar ações de infração de marca ou ser impedido de importar e vender mercadorias por disputas de propriedade intelectual.

Com essa exclusividade assegurada, sua empresa detém a liberdade de planejar campanhas de marketing, investir em distribuição e fechar parcerias locais sem o temor de contestações de terceiros.

Além da segurança jurídica, a abrangência internacional de uma marca fortalece seu valor comercial e reputação.

Investidores, sócios e potenciais adquirentes de negócios olham com melhores olhos para empresas cujo portfólio de ativos intangíveis inclui proteção global, pois isso demonstra não apenas visão de longo prazo, mas também disciplina na gestão de riscos.

Para distribuidores e parceiros estrangeiros, a existência de um registro internacional serve de atestado de confiabilidade, reduzindo a necessidade de auditorias contratuais extensas e acelerando o fechamento de alianças estratégicas.

Por fim, em um ambiente global onde imitações e falsificações proliferam—em especial em mercados com regulamentação menos rigorosa—a marca internacional fornece os meios para coibir práticas de concorrência desleal.

Com ela em mãos, o titular pode acionar escritórios de propriedade intelectual e tribunais locais para apreender produtos piratas, impedir o uso não autorizado e exigir indenizações por perdas e danos.

Dessa forma, o registro internacional não apenas protege a imagem da empresa, mas também assegura que todo o investimento em inovação e branding seja preservado e valorizado onde mais importa.

Como funciona o Registro Internacional de Marca?

registro internacional de marca grupo de-executivos

Para navegar pelo registro internacional de marcas, é fundamental entender os diferentes caminhos disponíveis e suas particularidades.

Seja optando pelo Sistema de Madri, que centraliza pedidos e facilita a gestão global, ou seguindo procedimentos diretos em jurisdições estratégicas como EUA, União Europeia e China, cada via impõe requisitos e prazos específicos.

Abaixo, detalhamos o funcionamento do Protocolo de Madri e as particularidades de filing direto nos principais mercados internacionais.

Sistema de Madri (OMPI)

O Protocolo de Madri, administrado pela OMPI, é o principal instrumento para proteger marcas em escala internacional. Seu funcionamento envolve:

  1. Pedido Básico no INPI
    Antes de tudo, é necessário ter protocolado um pedido de marca ou possuir registro válido no INPI. Esse documento servirá de fundamento para o pedido internacional.
  2. Formulário Internacional (MM2)
    Preenchimento eletrônico do formulário MM2, indicando os mesmos dados do pedido básico e listando os países onde deseja proteção.
  3. Envio e Tramitação pela OMPI
    A OMPI verifica a conformidade formal e publica o pedido no Boletim Internacional. A partir daí, cada país designado realiza exame substantivo — exame de anterioridade, similaridade e cumprimento de requisitos locais.
  4. Concessão e Notificação
    Para cada jurisdição, o escritório local comunica a aceitação, exigências ou recusa, geralmente em prazo entre 12 e 18 meses. Uma vez aceito, a proteção se estende por 10 anos, renováveis globalmente.

Esse sistema unifica renovação e eventuais alterações, como mudança de titularidade, em um único processo perante a OMPI, sem necessidade de múltiplos trâmites nacionais.

Filing direto nos Estados Unidos

Os EUA, apesar de participarem do Sistema de Madri, têm peculiaridades que tornam comum o filling direto:

  • Intent to Use (ITU)
    Permite protocolar pedido antes do uso efetivo, mediante declaração de intenção. Após publicação e período de oposição, o titular tem prazo para comprovar uso real.
  • Use-Based
    Para marcas já em uso, é necessário anexar evidências de uso no “interstate commerce” — vendas interestaduais ou exportações.
  • Exame Rigoroso
    A USPTO realiza exame detalhado de similaridade, análise fonética e requisitos formais. Prazos de resposta a Office Actions giram em torno de 6 meses.

Outras jurisdições relevantes

Além de EUA, União Europeia (EUIPO) e China (CNIPA) são destinos estratégicos:

  • União Europeia (EUIPO)
    Registro Comunitário garante proteção em todos os 27 países-membros. Processo único, com exame formal e substantivo, geralmente concluído em 6–9 meses.
  • China (CNIPA)
    Primeiro a depositar é primeiro a registrar (“first-to-file”). Exame formal rápido, mas substantivo pode levar anos.
  • Japão, Coreia, Brasil como base
    Mercados orientais exigem depósito local, muitas vezes com tradução obrigatória e agentes locais credenciados.

Passo a passo: Como fazer o registro internacional de marca

registro internacional de marca casal donos de marca de modas

Antes de iniciar o processo de registro internacional, é essencial seguir etapas bem definidas que garantam maior chance de sucesso e minimizem riscos e custos desnecessários.

Abaixo, detalhamos o passo a passo — desde a pesquisa de anterioridade até a gestão pós-concessão — para que sua marca conquiste proteção em todos os mercados desejados.

  1. Pesquisa de Anterioridade Global
    Utilize bases internacionais (WIPO Global Brand Database, TSDR da USPTO) para identificar riscos e ajustar sua estratégia de designações.
  2. Pedido Nacional no INPI
    Protocole sua marca e aguarde deferimento ou protocolamento. Esse número será usado no formulário internacional.
  3. Escolha de Países e Classes
    Defina países prioritários com base em mercado consumidor, produção e concorrentes. Limite-se às classes de produtos/serviços relevantes para conter custos.
  4. Protocolo Internacional (MM2)
    Preencha eletronicamente o formulário, revisando atentamente nome, classes e representação gráfica.
  5. Acompanhamento de Prazos
    Monitore prazos de 12–18 meses para cada jurisdição. Esteja preparado para responder exigências formais (pagamento de taxas, tradução) e substanciais (oposição de terceiros).
  6. Concessão e Gestão
    Uma vez registrado, inclua a marca em seu portfólio de ativos intangíveis, use o símbolo ® ou R com círculo nos países correspondentes e prepare-se para a renovação a cada 10 anos.

Custos do Registro Internacional de Marca

registro internacional de marca reunião com cliente

Os custos variam conforme número de países, classes e necessidade de serviços adicionais:

  • Taxa Básica do INPI: varia por número de classes (por volta de R$ 355,00 por classe).
  • Taxa OMPI: taxa fixa (aprox. CHF 653) + taxas complementares por designação de cada país (de CHF 100 a CHF 1000 por país, dependendo do país e classes).
  • Honorários de Agente: profissionais no Brasil e no exterior podem cobrar entre USD 300 e USD 1.500 por jurisdição, incluindo acompanhamento de exigências e despachos.
  • Renovação: a cada 10 anos, taxa OMPI e eventuais taxas nacionais, geralmente 50–75% do valor do pedido inicial.

Registro no INPI e validade internacional

registro internacional de marca time tomando decisões

Embora obter o registro de marca junto ao INPI seja o primeiro passo para quem deseja proteção internacional via Protocolo de Madri, esse deferimento nacional não significa, por si só, que sua marca passe a valer automaticamente em todo o mundo.

Ele funciona apenas como “pedido básico” que a OMPI usa como referência. A real proteção em cada país depende do exame e do deferimento pelas autoridades locais, de acordo com suas regras específicas de anterioridade, semelhança e formalidades.

Uma vez concedido o registro internacional, é fundamental comprovar o uso efetivo da marca nos territórios designados.

A maioria das jurisdições exige que o titular forneça provas de uso real—por exemplo, contas de publicidade, invoices de venda ou fotos de embalagens—para evitar a caducidade por não uso, regra que costuma se aplicar entre 3 e 5 anos após a concessão.

Sem essa demonstração, o registro pode ser anulado, abrindo espaço para que concorrentes se inscrevam no seu lugar.

Outro ponto crítico é a renovação: embora o INPI conceda exclusividade por 10 anos no Brasil, o registro internacional também precisa ser renovado a cada década junto à OMPI.

Este processo centralizado permite manter todos os países ativos por meio de um único procedimento, porém nem todos os escritórios nacionais reconhecem automaticamente essa renovação.

Em alguns casos—por exemplo, China ou certos Estados da África—pode ser necessário protocolar também um pedido nacional de renovação ou pagar taxas locais adicionais.

Por fim, manter os dados cadastrais atualizados é essencial para não correr o risco de perda de prazos ou de comunicação falha. Endereço do titular, nome do representante e, em caso de mudança de titularidade, a nova razão social devem ser informados via sistema da OMPI.

Essas atualizações centrais refletem-se automaticamente em todas as jurisdições designadas, simplificando a gestão de portfólio e evitando surpresas desagradáveis, como notificações que não chegam ao destinatário correto ou mesmo cancelamento de registros por abandono de comunicação.

Conclusão

Registrar sua marca internacionalmente é um passo decisivo para garantir sua exclusividade e valor em um mercado globalizado. Ao optar pelo Sistema de Madri, você simplifica o processo, reduz custos e centraliza a gestão de múltiplas jurisdições.

Países com sistemas próprios, como EUA, UE e China, exigem filing direto, mas complementam sua estratégia de proteção.

O investimento em pesquisa de anterioridade, planejamento de países-alvo e monitoramento contínuo garante que sua marca permaneça forte e livre de conflitos internacionais.

Para navegar com segurança neste processo complexo, conte com a expertise da MMF Advogados, que oferece assessoria completa — do estudo inicial de viabilidade à manutenção pós-concessão — assegurando que seu ativo intangível seja protegido onde realmente importa.

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Autor

  • Lucas B. Araújo

    Lucas Bernardes Araújo é advogado, graduado pela UFMG, especialista em Propriedade Intelectual pelo CEDIN e Mestre pela UFMG. No MMF Advogados, atua primordialmente em demandas de Direito Empresarial e Propriedade Intelectual; Cursando LL.M. em Direito Empresarial pela FGV; Tem experiência docente em Direito Civil, Empresarial e Propriedade Intelectual na PUC Minas e no IGTI.

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