Princípio da legalidade tributária: aplicação e importância

O Direito Tributário brasileiro é guiado por princípios que garantem equilíbrio e segurança jurídica na relação entre o Fisco e os contribuintes. Entre eles, destaca-se o princípio da legalidade tributária, que determina que nenhum tributo pode ser criado ou alterado sem previsão em lei.

Esse princípio protege os contribuintes contra abusos e é essencial para o planejamento tributário das empresas, especialmente em um sistema com alta carga fiscal e legislação complexa. Ele garante previsibilidade, organização financeira e estabilidade nas operações empresariais.

Neste texto, vamos explicar de forma prática o que é a legalidade tributária, como ela funciona e sua importância para a segurança jurídica, além de abordar sua interação com outros princípios, como o da anterioridade e da isonomia.

O que é o princípio da legalidade tributária? 

Princípio da legalidade tributária Homem segurando livro com notebook

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 150, inciso I, estabelece que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. 

Esse comando constitucional limita a ação do poder público, impedindo que tributos sejam criados ou alterados por atos normativos infralegais, como decretos ou portarias. O objetivo é assegurar que toda exigência fiscal se baseie em lei, aprovada pelo Poder Legislativo, que detém a legitimidade popular para criar obrigações aos cidadãos.

No âmbito do Código Tributário Nacional (CTN), o princípio da legalidade é reafirmado e detalhado, definindo que apenas a lei pode estabelecer fatos geradores, bases de cálculo, alíquotas e os sujeitos passivos de cada tributo. Dessa forma, o contribuinte passa a ter clareza sobre quando e quanto deve pagar, podendo planejar-se adequadamente.

Esta ampla proteção oferecida pelo princípio da legalidade não se restringe apenas à criação ou majoração de tributos. A legislação também prevê outras garantias relacionadas ao princípio, como a necessidade de lei para instituir isenções ou benefícios fiscais. 

Em outras palavras, o Estado não pode criar vantagens a determinados contribuintes ou setores sem respaldo legal, assegurando a isonomia e prevenindo tratamentos discriminatórios.

O que é o princípio da legalidade? (art. 150 da CF)

O artigo 150, inciso I, da Constituição Federal de 1988, é a base do princípio da legalidade no âmbito tributário, ao determinar que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não podem “exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”. 

Em outras palavras, somente a lei tem legitimidade para criar, modificar ou extinguir tributos, bem como estabelecer suas bases de cálculo, alíquotas e fatos geradores.

Esse comando constitucional tem por objetivo proteger os contribuintes, pois impede que o poder de tributar seja exercido de forma arbitrária. 

Desse modo, os cidadãos e as empresas têm a segurança de saber que qualquer obrigação fiscal deve passar pelo processo legislativo, que é público e sujeito a debates e aprovações em múltiplas instâncias. 

Sem esse princípio, o Executivo poderia, por exemplo, criar impostos ou majorá-los via decretos, sem qualquer controle popular, o que comprometeria seriamente a estabilidade econômica e a previsibilidade das obrigações tributárias.

Aplicação no âmbito tributário de acordo com o CTN

Princípio da legalidade tributária Mulher fazendo anotações sorridente

No Código Tributário Nacional (CTN), o princípio da legalidade é reforçado em diversos dispositivos. O CTN, ao definir aspectos gerais de tributos, determina que somente a lei pode instituir ou majorar fatos geradores, bases de cálculo, alíquotas e sujeitos passivos. 

Dessa forma, se uma empresa busca saber quando e quanto deve pagar de determinado imposto, ela encontra na lei a resposta, e não em um ato regulamentar.

Além disso, o CTN prescreve que mesmo as isenções e benefícios fiscais, como a redução de alíquota ou a suspensão de cobranças, só podem existir se houver lei em sentido estrito que as autorize. Isso significa que decretos, portarias e instruções normativas não podem criar ou extinguir isenções sem o respaldo legal adequado.

Exemplo de aplicação do princípio da legalidade tributária

Para ilustrar, suponha que um Estado queira criar um adicional de ICMS sobre determinado produto. Ele só poderá fazê-lo por meio de lei aprovada na assembleia legislativa e sancionada pelo governador. 

Se tentasse faze-lo por decreto, essa ação seria inconstitucional, pois violaria o princípio da legalidade. Esse exemplo reforça a segurança jurídica oferecida aos contribuintes, pois evita “surpresas fiscais” arbitrárias e garante a possibilidade de acompanhar a tramitação de projetos de lei e participar do processo político.

Qual é a importância do princípio da legalidade tributária para as empresas? 

Princípio da legalidade tributária Advogados

O princípio da legalidade tributária reveste-se de especial importância para as empresas, pois estabelece regras claras e seguras sobre quando e quanto elas devem pagar em tributos. Ele afeta diretamente a capacidade de planejamento, a competitividade e a segurança jurídica no ambiente de negócios.

Segurança jurídica

A principal vantagem do princípio da legalidade tributária é a segurança jurídica. Ao assegurar que somente a lei pode criar e majorar tributos, o ordenamento jurídico brasileiro oferece um ambiente mais previsível para as empresas. 

Isso significa que elas não podem ser surpreendidas por um tributo ou aumento de alíquota decretado unilateralmente pelo Poder Executivo. Pelo contrário, qualquer mudança na carga tributária deve ser debatida e aprovada pelo Legislativo.

Essa previsibilidade permite que as empresas elaborem seus planos de negócio com maior confiabilidade, projetando custos e receitas de forma consistente. Em um cenário de incertezas fiscais, seria muito mais difícil tomar decisões de investimento, contratar funcionários ou expandir operações.

Planejamento tributário

O planejamento tributário é essencial para a saúde financeira e a competitividade das empresas. Trata-se de um conjunto de estratégias legais que buscam minimizar a carga tributária, aproveitando incentivos, regimes especiais ou isenções previstas em lei. 

O princípio da legalidade tributária oferece a base para esse tipo de planejamento, pois todas as normas que instituem ou modificam tributos devem estar claras e acessíveis aos contribuintes.

Quando as regras tributárias são estabelecidas em lei, as empresas podem estudar os dispositivos legais, buscar interpretações coerentes e encontrar oportunidades de economia, sempre seguindo os limites da legislação.

Por exemplo, uma empresa pode optar pelo regime de lucro real ou lucro presumido, dependendo do que for mais vantajoso, bem como buscar incentivos fiscais para pesquisa e desenvolvimento, caso essa hipótese esteja prevista em lei.

Caso o poder público pudesse alterar tributos por meio de decretos ou portarias, sem passar pelo Legislativo, o planejamento tributário se tornaria extremamente frágil, pois as empresas estariam expostas a mudanças repentinas e imprevisíveis na carga tributária. 

Com o princípio da legalidade, elas têm maior estabilidade, permitindo que elaborem estratégias de longo prazo, o que é crucial em um cenário de alta competitividade.

Em resumo, a legalidade tributária protege o contribuinte contra a arbitrariedade estatal, reforça a segurança jurídica e possibilita a realização de um planejamento tributário sólido, contribuindo para o fortalecimento das empresas e para o desenvolvimento econômico do país.

Outros princípios que interagem com o da legalidade tributária 

Princípio da legalidade tributária Advogados analisando documento

O princípio da legalidade tributária não atua isoladamente no ordenamento jurídico brasileiro. 

Outros princípios constitucionais e legais interagem com a legalidade, reforçando a proteção dos contribuintes e regulando a forma como o Estado pode exercer seu poder de tributar. Entre os mais relevantes estão o princípio da anterioridade tributária e o princípio da isonomia tributária.

Princípio da anterioridade tributária

O princípio da anterioridade prevê que, após a instituição ou majoração de um tributo, deve transcorrer um período mínimo antes que a cobrança passe a valer, garantindo ao contribuinte tempo para se adaptar às novas condições fiscais. 

Esse período é, em geral, o exercício financeiro seguinte ou um mínimo de 90 dias, dependendo do tipo de tributo. A Constituição Federal, nos artigos 150, inciso III, alíneas “b” e “c”, define as regras para a aplicação da anterioridade.

Esse princípio complementa o da legalidade ao impedir a exigência imediata de tributos criados ou aumentados por lei. Dessa forma, mesmo que o Legislativo aprove uma nova lei tributária, os contribuintes têm um prazo de carência para adequar seus processos e orçamentos, o que evita surpresas fiscais que poderiam comprometer suas atividades.

Princípio da isonomia tributária

A isonomia tributária, prevista no artigo 150, inciso II, da Constituição Federal, determina que não se pode tratar de forma desigual contribuintes que estejam em situações equivalentes. Em outras palavras, impostos e regras fiscais devem ser aplicados de maneira justa, sem discriminações arbitrárias.

Esse princípio influencia a legalidade tributária ao exigir que as leis que criam ou alteram tributos façam distinções fundamentadas em critérios objetivos. 

Por exemplo, uma lei que crie um imposto diferenciado para determinado grupo de contribuintes deve demonstrar razões legítimas para essa diferenciação, como a capacidade contributiva ou a necessidade de corrigir desigualdades setoriais.

Exceções ao princípio da legalidade tributária

Princípio da legalidade tributária jovem analisando documentos

Embora o princípio da legalidade tributária seja uma pedra angular do sistema brasileiro, garantindo que apenas a lei possa instituir ou aumentar tributos, existem situações específicas em que a própria Constituição ou a legislação permitem uma certa flexibilização. 

Essas exceções, no entanto, são limitadas e devem ser interpretadas de forma estrita para evitar abusos por parte do Poder Público.

Entre as exceções mais conhecidas estão:

  1. Alterações de Alíquotas de Tributos Regulatórios:
    Algumas contribuições ou impostos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto de Importação (II), podem ter suas alíquotas alteradas por decreto presidencial, com base em critérios de política econômica ou de regulação do mercado. Nesse caso, a Constituição permite ao Executivo promover variações na carga tributária, visando influenciar o consumo ou proteger setores da indústria nacional. Porém, tais mudanças não podem desrespeitar os limites constitucionais e devem ser justificadas de acordo com a política fiscal.
  2. Medidas Provisórias:
    A Constituição Federal prevê a figura das Medidas Provisórias, que têm força de lei e podem ser editadas pelo Presidente da República em casos de relevância e urgência. Em tese, elas não podem criar ou aumentar tributos, exceto quando se trata de impostos passíveis de alíquota alterada por ato do Executivo (como o IPI). A utilização de Medidas Provisórias para tratar de matéria tributária, portanto, é uma exceção que suscita controvérsias e exige cautela, pois pode colidir com a essência do princípio da legalidade.
  3. Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE):
    Algumas contribuições, como a CIDE-combustíveis, têm mecanismos legais que permitem ao Executivo ajustar as alíquotas dentro de faixas pré-estabelecidas em lei. Essa previsão busca conferir certa agilidade ao poder público para regular setores estratégicos, mas sempre dentro dos limites legais.
  4. Regimes Especiais de Tributação:
    Em certos casos, leis permitem ao Poder Executivo definir detalhes técnicos por meio de decretos ou portarias, como a forma de apuração de bases de cálculo ou a definição de incentivos fiscais em áreas de livre comércio ou zonas de processamento de exportações. Embora não seja propriamente uma exceção ao princípio da legalidade, representa uma flexibilização que deve estar cuidadosamente delimitada em lei.

É importante frisar que essas exceções não eliminam o princípio da legalidade; elas apenas estabelecem hipóteses em que o Executivo pode exercer alguma margem de manobra. 

Ainda assim, qualquer ato infralegal (como decretos ou portarias) deve observar limites fixados em lei. Se esses limites forem ultrapassados, configura-se a violação do princípio da legalidade, passível de controle pelo Poder Judiciário. 

As empresas devem estar atentas a essas situações, pois mudanças nas alíquotas ou nos regimes especiais podem impactar diretamente suas estratégias de planejamento tributário.

Por que é fundamental a assessoria jurídica especializada? 

Princípio da legalidade tributária aperto de mãos

O princípio da legalidade tributária, ao mesmo tempo que garante proteção ao contribuinte, exige um nível elevado de conhecimento jurídico para ser corretamente interpretado e aplicado. 

Em um ambiente empresarial que lida diariamente com obrigações acessórias, estratégias de planejamento fiscal e acompanhamento de leis e normas complexas, contar com uma assessoria jurídica especializada faz toda a diferença.

Complexidade de compreensão das obrigações tributárias

A legislação tributária brasileira é reconhecida pela sua extensão e mutabilidade. Com frequência, surgem novas leis, decretos e instruções normativas que afetam tributos federais, estaduais e municipais. 

Para empresas, acompanhar todas essas mudanças e evitar irregularidades fiscais pode se tornar uma tarefa monumental.

Advogados especializados em Direito Tributário possuem a expertise necessária para interpretar e aplicar essas normas de forma segura. Eles auxiliam:

  1. Na análise de risco: Identificando potenciais passivos tributários antes que eles se concretizem.
  2. Na elaboração de defesas administrativas e judiciais: Em caso de autuações, a assessoria prepara argumentos técnicos e embasados na lei para proteger a empresa.
  3. Na adequação de processos internos: Adequando a escrituração contábil e fiscal, além de orientar sobre as melhores práticas de compliance.

Acompanhamento de mudanças normativas tributárias

Outra vantagem de contar com um time de advogados especializados, como a equipe da MMF Advogados, é o acompanhamento contínuo das mudanças legislativas em matéria tributária. 

No Brasil, a legislação tributária sofre alterações frequentes, que podem envolver a edição de novas leis, decretos, instruções normativas ou até mesmo emendas constitucionais. 

Quando ocorrem modificações na alíquota de um imposto ou na forma de apuração de determinado tributo, as empresas precisam se adaptar rapidamente para manter a conformidade e evitar riscos de autuação.

A MMF Advogados atua de forma proativa, monitorando e interpretando as mudanças normativas que podem afetar os negócios de seus clientes. Ao identificar alterações na legislação, a equipe elabora relatórios e orientações específicas, propondo ajustes nos procedimentos internos e nos processos de apuração de impostos. 

Essa abordagem reduz significativamente a probabilidade de atrasos ou inconsistências no cumprimento das obrigações fiscais, bem como a incidência de multas e outras penalidades.

Os profissionais da MMF também estão familiarizados com as exceções ao princípio da legalidade tributária, como as situações em que o Poder Executivo está autorizado a alterar alíquotas ou quando podem ser adotadas medidas provisórias em matéria fiscal. 

Entender essas exceções é crucial para que a empresa possa antecipar impactos em sua gestão tributária e, se necessário, ajustar sua estratégia de maneira ágil para se manter competitiva no mercado.

Conclusão 

Princípio da legalidade tributária analisando relatórios

O princípio da legalidade tributária é um dos alicerces do Direito Tributário brasileiro, garantindo que nenhum tributo seja criado ou majorado sem respaldo legal, aprovado pelo Poder Legislativo. 

Essa regra fornece segurança jurídica para as empresas e os cidadãos, permitindo que todos planejem suas atividades econômicas com clareza sobre suas obrigações fiscais.

Ao proibir a exigência de tributos por atos infralegais, a legalidade reforça a estabilidade do sistema tributário, incentivando a transparência e o debate público nos processos legislativos. 

Em um cenário onde a carga fiscal é elevada, esse princípio protege o contribuinte contra ações arbitrárias do Poder Executivo, bem como viabiliza um ambiente econômico equilibrado, onde a competitividade e a inovação podem florescer.

Para as empresas, o princípio da legalidade tributária se traduz em maior previsibilidade de custos e melhor possibilidade de planejamento tributário. Ao conhecerem de antemão as alíquotas, bases de cálculo e fatos geradores estabelecidos em lei, podem estruturar suas operações e investimentos de forma segura. 

Além disso, a proteção conferida pela legalidade previne a edição de normas que possam ferir a livre iniciativa ou desestabilizar suas atividades.

Entretanto, é crucial lembrar que a aplicação do princípio da legalidade deve ser observada em conjunto com outros princípios, como a anterioridade e a isonomia tributárias, bem como com as exceções previstas na Constituição e no Código Tributário Nacional. Essa combinação de princípios assegura um sistema tributário mais justo e transparente.

Nesse contexto, a assessoria jurídica especializada torna-se um diferencial estratégico para as empresas. Com o amparo de profissionais com amplo conhecimento em Direito Tributário, as organizações estão aptas a interpretar corretamente a legislação, prevenir litígios e aprimorar suas práticas fiscais. 

A MMF Advogados desempenha um papel fundamental nesse cenário, auxiliando desde a orientação sobre mudanças na lei até a elaboração de defesas administrativas e judiciais em casos de autuação.

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Autor

  • Lucas Rezende Moss

    Lucas Moss é advogado, graduado pela PUC Minas, pós-graduado em Direito Tributário pelo CEAJUFE; Tem especialização em Contabilidade, Direito Societário - Sociedades Anônimas, Direito Corporativo e Direito de Energia; Possui vasta experiência em Direito Imobiliário, e desenvolveu o produto "leilão de ponta a ponta".

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